Um texto apaixonante.

Olá Leitores Anônimos!
Estou em semana de provas, mas isso não quer dizer que eu não possa gostar de um texto, que inclusive estava em uma de minhas provas.
Esse texto não é de minha autoria, ou seja, não fui eu que escrevi. 
Ele estava na parte de interpretação de texto da minha prova de Português.
Até então, confesso, que nunca tinha ouvido falar dessa autora, mas depois de ler esse texto, já quero comprar os livros dela.
Vamos conhecer esse texto.
         
                       O Primeiro Amor.
                                                                         
   Ana Miranda.

      Numa noite eu estava no clube, esperando meus país terminarem uma conversa, quando ouvi no ginásio esportivo o barulho de uma bola batendo no chão pá pá pá sem parar. Subi os degraus, e fui até o alto da arquibancada deserta.
     Na quadra de basquete um rapaz treinava, sozinho. Ele era alto e magro, cabelos pretos, sobrancelhas grossas, olhos escuros. Estava de uniforme esportivo vermelho.
    Ele sentiu a minha chegada, parou um instante de correr, deu uma olhada rápida na minha direção, secou o suor da testa com a manga da jaqueta e continuou sei treino. Quando ele se virou de costas, vi na jaqueta o escudo do time que tinha vindo de fora para competir com o time do nosso clube. Sentei no último degrau, numa parte meio escura, e fiquei olhando o jogador.
    Ele corria, batendo a bola no chão, pá pá pá levantando a bola dessa maneira até perto da cesta, ali ele dava um salto bem alto, às vezes hesitava e desistia. Sempre recomeçava com a mesma disposição e velocidade a jogada. Dava para perceber que ele já tinha feito aquilo mais de mil vezes. Senti que estava se exibindo do escuro, para a moça magra de cabelos pretos e compridos, que os assistia do escuro, parada, que era eu. Percebi que tinha se criado um fio invisível entre nós.  E meu coração começou a bater fortemente, ao pensar nesse fio. Percebi que alguma coisa estava acontecendo dentro de mim. Parecia que um líquido quente corria por todo o meu corpo, a se derramava, e fiquei tão inquieta que dei um salto, me levantei de um salto, para ir embora, mas vi que o jogador perdeu o controle da bola, parou, e olhou para mim. Fiquei paralisada, ali em pé, pulsando e suando.
    Num instante ele tirou a jaqueta, e vi seus braços compridos e fortes, que eram apenas braços, eu conhecia muitos vizinhos, do primo, tinha visto diversos tipos de braços, mas aqueles braços se desenharam na minha cabeça de uma maneira diferente, parecia que tinham alma, vida própria, atração. E o jogador voltou a jogar, agora com mais velocidade, mais cercado de fogo e luz, como se fosse um sonho, minha respiração ficou difícil, meus ouvidos zuniam, e percebi  de repente que buzina que tocavam lá fora sem parar era do carro do meu pai, e saí correndo, desci as escadas, cruzei o gramado, atravessei a rua escura, abri a porta e entrei no carro, pá.
    Minha mãe perguntou o que tinha acontecido, por que eu estava tão agitada, o que eu tinha visto que me assustou tanto? Nada, eu disse. sozinha, no banco de trás do carro, eu olhava do lago, do mato, da lua que brilhava no céu e se refletia na água, que era a mesma paisagem de sempre, do caminho de volta do clube para casa à noite, mas havia alguma coisa diferente naquela paisagem, lobos nas sombras, ruídos, ameaças, frutas de sabor estranho, ela me convidava a entrar, e eu me vi correndo no mato, desabalada  como se fugisse, enquanto ouvia as batidas da bola na quadra batendo batendo pá pá pá repetidamente, e eu chegava à beira do lago, e me jogava na água  prateada, e pensava na prova de matemática amanhã e eu não tinha estudado a matéria e ia precisar      aguar o gramado pá pá pá e as minhas meias preferidas estavam sujas e eu não gostava do ovo cru e eu ia ter aula de italiano e eu tinha ido muito mal na expressão oral e o disco ainda não tinha chegado e pensava nessas coisas prosaicas mas nada tirava de meu corpo a sensação estranha que eu sentia, pá pá pá ouvia meu coração a bater também, e via a imagem do jogador treinando na quadra, debaixo de uma luz que iluminava apenas ele, tudo escuro em volta, e cada vez eu via seu rosto mais perto, mais perto até que ele ficou tão grande que eu levei um susto, está menina está  tão quieta, dizia mamãe, e continuei quieta na hora do jantar, comi pouco pouquíssimo, deixei até mesmo a sobremesa sem tocar, deitei na cama e não consegui dormi, rolava de um lado para o outro, agarrava o travesseiro, via o jogador na parede escura, nas frestas da persiana, ouvia a bola batendo na quadra batendo no meu peito fechado os olhos e via a imagem do jogador dentro  da minha cabeça como se tivesse sido marcada a fogo, a luz, como se fosse um filme se repetindo e o barulho da bola na quadra, e os braços deles me abraçavam as persianas deixaram entrar aos poucos ao raios daquela lua cheia do lago, e ele era aquela luz e era o silêncio da noite e era o quarto e cada estrela, eu via o rosto dele e rosto pensava, como verdadeiro, o que estava acontecendo comigo? via sua face e sentia ali a existência de algum feito acontecer, como se tivesse me empurrado num precipício, eu guiada por outra força, como se  nenhuma dúvida, mesmo sem saber nada do que podia acontecer comigo, quem era ele, se eu  amo menos soubesse o nome dele, e fiquei olhando a noite inteira para ele dentro da minha memória jogando pá pá pá sem precisar saber nada dele, só sentindo aquele movimento dentro de mim pá pá os cabelos pretos os braços tudo era tão macio ele me olhou para mim os olhos pretos dele a luz nos seus cabelos de foge ele apaixonou por mim, era isso, eu me apaixonei por ele, e ele por mim e eu por ele e quando amanheceu eu ainda estava apaixonada, ah sonâmbula, eu tinha acordado e sentia a maior vontade de viver, ir à escola, chegar o outro domingo, comi ovo cru sem sentir nojo e fui para a escola tonta de paixão, eu via o jogador no asfalto que eu pisava, via o jogador no bico do meu sapato no portão portão da escola no tronco da árvore na saia xadrez das meninas no rosto dos meninos, via jogador no caderno pó do giz e no quadro- negro pá pá pá fazia fantasias eu via o jogador jogando uma partida eu no meio da multidão e ele  parava no meio o jogo e olhava para mim e ele estava numa festa nu clube e passava ao meu lado tão perto de mim que eu sentia o calor da sua pele a ele não me via, ele passava perto de mim e sorria para mim, ele tirava para dançar ele dançava ele casava comigo ele vinha ser professor na minha escola ele batia o carro no nosso e me 
levava no colo até o hospital, ele me chamava para fugir no seu barco à vela ele tinha um avião e pilotava e jogava milhares de rosas sobre a minha casa ele batia na janela do meu quarto ele me beijava os lábios ele me beijava os lábios, ele me levava ao cinema e segurava minha mão ele passava na frente da minha varanda e olhava ele vinha de noite namorar ele me pedia em casamento ele mergulhava comigo nas águas do lago ele me dava um filho ele me beijava os lábios segurava minha mão me levava a voar sobre os telhados, passei dias e dias assim pensando nele sem um estante de descanso  achei que estava ficando louca, mas adora me sentir assim, sem prestar atenção nas aulas, sentindo beijos em meus lábios eu lia os jornais inteiros em busca de uma notícia e só queria ir ao clube ao clube e ia à quadra vazia e escura e ele não estava mais lá, e em lugar nenhum, e ninguém sabia dizer quem tinha treinado na quadra na noite do domingo  ele nunca se apagava de minha memória pá pá pá e tantos anos se passaram e nunca o esqueci nem deixei de senti o que ele me fez sentir, pela primeira vez , o amor.

Ownnnnnnn! Não é lindo? 
Espero que tenham gostado!
Ah, para quem tiver dúvidas sobre a pontuação. Calma, esse texto expressa a adrenalina que a narradora estava sentindo ao se apaixonar, por isso a falta de pontuação e o uso de "e". 
Esse "pá"  que tanto aparece também, para quem não souber, expressa o barulho da bola batendo no chão e do coração da personagem. Em um momento a batida da porta do carro também (mas dessa batida de porta, eu só soube quando estava fazendo a correção da prova. Esse "pá" se chama onomatopeia. E o "e" quando usado dessa maneira, é chamado polissíndeto.

Agradeço minhas aulas de português que vem me tornando cada vez mais inteligente!
Um big Beijo!

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